Fazer perder o equilíbrio, ficar instável. Simples significados que podemos retirar dos dicionários, nos faz pensar que o desequilíbrio pode ser apenas uma situação que não queremos vivenciar. Conforme o descrito na literatura o ser humano em todo momento oscila em equilíbrio e desequilíbrio, tentando a todo o momento manter-se em uma postura alinhada, ou seja, em posição vertical.
Sabe – se que o tratamento de fisioterapia neurofuncional baseia – se na neuroplasticidade, a qual ocorre durante todas as etapas do desenvolvimento motor dos seres humanos, desde que somos um simples embrião o desenvolvimento motor esta ocorrendo. Quando nascemos os desafios motores aumentam e com isto a neuroplasticidade ocorre de maneira gradativa.
Desde a nossa infância, nosso desenvolvimento motor nos proporciona vivenciar perturbações de gravidade externas que desafiam nosso tônus postural em reagir a esses desequilíbrios gerados pelo ambiente. A todo o momento a criança aborda situações motoras que influencia para que haja reações de movimento e postura, sendo que essas reações necessitam uma série de engramas que vão sendo criados e adaptados para executar uma tarefa. Através de desafios, repetições e treinamentos pode-se observar a capacidade que temos em automatizar uma tarefa que tenha uma conclusão funcional do movimento.
Essa simples oscilação constante de equilíbrios e desequilíbrios requerem muitas reações e ajustes posturais, ativando o controle neuromuscular para preservar uma queda, por exemplo. A importância de equilibrar-se e manter uma postura alinhada e estável tornam-se fundamentais para execução de movimentos funcionais e harmônicos, uma vez que para um bom controle motor é necessário que o indivíduo vivencie certas perturbações do seu centro de gravidade.
Sabemos que para o corpo se manter ereto e equilibrado, existem sistemas sendo ativados a todo o momento tais como: sistema visual, somatossensitivo, vestibular, integração do SNC e as sinergias musculares, que interagem obtendo respostas fisiológicas, ao equilíbrio estático e dinâmico. Indivíduos com déficits motores decorrentes de um dano neurológico perdem funções as quais refletem na postura e movimento funcional. As alterações motoras decorrentes da lesão neurológica apresentam – se de forma variada, esta se dá através das áreas lesionadas, sendo o que determinará o tipo, o grau de envolvimento e os distúrbios associados. Aspectos como esses são extremamente relevantes para iniciarmos as estratégias de recuperação da postura e movimento do paciente neurológico.
Durante o processo de reabilitação neurofuncional uma das ferramentas que podem ser mais utilizadas e pesquisadas, é a promoção do desafio em forma de desequilíbrio. Com os desequilíbrios sejam eles aplicados lentos ou rápidos, intensos ou leves, dependendo da fisiopatologia e a fase da recuperação, podemos observar reações que influenciará em todo contexto de independência do indivíduo. Para que haja desafios para o cérebro e este crie uma nova rede neural (neuroplasticidade), as abordagens de desequilíbrios devem ser reavaliadas constantemente, priorizando o automatismo desse processo de prática e aprendizado das reações que se tornam necessárias para um melhor desempenho motor.
Traçar objetivos concretos de desequilíbrios funcionais é primordial para o fisioterapeuta. Saber utilizar a conduta e os seus estímulos desafiadores na intensidade exata e treinar essa estratégia requerem um bom conhecimento de cinesiologia, para analisarmos a evolução motora do paciente. As tomadas de decisões e o estabelecimento de metas a serem alcançadas devem ser baseadas nas necessidades neurofuncionais do paciente.
A utilização de diferentes dispositivos para provocar desequilíbrios no tratamento cinesioterapêutico é fundamental e as possibilidades são inúmeras, porém formar o raciocínio em cima de propostas estáticas e inconclusivas não permite um auto desenvolvimento teórico crítico sobre neurofunção. O que se pode discutir atualmente para reabilitação neurofuncional são abordagens ativas e intensivas de caráter desafiador que determinará a reorganização cerebral. Desafiar o comum, mudar o paradigma de fisioterapia neurofuncional são claramente necessárias, pois influenciaram em novas perspectivas de tratamento, que automaticamente refletirá na melhora da parte clínica e científica. Se abastecer de perguntas, tornam o fisioterapeuta um profissional capaz de promover a evolução de seus conhecimentos.
Por Rodolfo Alex Teles e Bruna Finato Baggio
Acadêmicos de Fisioterapia - FSG
Caxias do Sul - RS