domingo, 19 de junho de 2011

Aprendizagem motora





Aprendizagem é um processo pelo qual a maioria dos animais adquire conhecimento sobre o mundo, e memória é a retenção ou armazenamento desse conhecimento.

A memória divide-se em dois grandes grupos: implícita e declarativa. A declarativa constitui um sistema no qual a informação é processada mesmo após uma única experiência e então estocada, relembrada de forma consciente de acordo com a demanda, passível de relato verbal (a repetição constante pode transformar o conhecimento declarativo em processual). O módulo implícito ou processual representa a aquisição de habilidades motoras, perceptuais e rotinas cognitivas por meio da exposição repetitiva a uma atividade específica, com regras invariáveis.

Aprendizagem Motora: um conjunto de processos não conscientes, associados com a prática e repetição de movimentos, que levam às mudanças permanentes nas respostas motoras através de modificações das redes neurais.

O desempenho evolui de impreciso para acurado, de lento para veloz e de controlado pela atenção para automático. É a base do processo de reabilitação, uma vez que possibilita a mudança de comportamentos motores já adquiridos, como também a aquisição de novos.

A melhor forma de organizar as sessões de treino sobre a aquisição e a retenção da habilidade, tem sido investigada com a finalidade de fornecer bases científicas que sustentam a intervenção, pois o aprendizado pode ser otimizado quando a prática do exercício combina aspectos de retenção e transferência. A capacidade de adaptar e generalizar são frutos da consolidação do processo de aprendizagem motora, com a formação de um novo modelo interno. A variabilidade da condição de treinamento possibilitaria a formação de um modelo interno mais flexível, e que essa flexibilidade favoreceria a adaptação e a generalização da tarefa. Reflete a prática da especificidade neural porque envolve a integração da informação motora e sensorial disponíveis durante o exercício. Fato consistente com os avanços da neuroreabilitação e neuroplasticidade. O processo caracterizado por mudanças sinápticas temporárias e definitivas representaria a formação de uma representação interna, chamada anteriormente de Esquema Motor e, atualmente, definida como "modelo interno".

Ao final do processo de aprendizagem motora, espera-se que, por meio da modificação da rede sináptica, um novo modelo interno para a tarefa seja formado, o que permite que, além da melhora no desempenho da própria tarefa para as condições treinadas, seja adquirida a capacidade de utilizar esse mesmo modelo interno, para realizar a mesma tarefa em diferentes condições ambientais ou ainda para melhorar o desempenho de tarefas similares. Os produtos do processo de aprendizagem motora, a adaptação e a generalização, são fundamentais para a reabilitação de pacientes com disfunções motoras, pois é esperada que, após o treino de uma determinada habilidade, além da melhora do desempenho, seja adquirida a capacidade de realizá-la em diferentes condições ambientais, distintas do ambiente terapêutico, bem como essa aprendizagem sustente o desempenho de habilidades semelhantes.



PROCESSO COMPLEXO DE PERCEPÇÃO-COGNIÇÃO-AÇÃO

BUSCA DE SOLUÇÃO PARA UMA TAREFA QUE SURGE DE UMA INTERAÇÃO INDIVIDUO-TAREFA-AMBIENTE

Cerebelo e Aprendizado







Admite-se que o cerebelo participa deste processo através de fibras olivo-cerebelares. A execução automática dos movimentos complexos requer um prévio período de treinamento, repetidas vezes sob atividade mental consciente. As conexões do cerebelo com outras partes do SNC estabelecem circuitos de controle. As principais são: as que partem do córtex motor cerebral, passando pelos núcleos pontinhos, córtex cerebelar, núcleo denteado, rubro e vento-lateral do tálamo. O fato de lesões cerebelares implicarem no surgimento de distúrbios motores como ataxia, incoordenação motora, dismetria e disdiadococinesia, sugere que o cerebelo seja responsável pelo controle da perfeita execução dos movimentos.

Os hemisférios cerebelares são os controladores dos movimentos voluntários, que exigiram a aquisição da habilidade pela prática, enquanto que a porção mais lateral desenvolveu-se conectada a áreas cerebrais corticais de associação, estando mais relacionados ao controle mental dos movimentos. O cerebelo ajusta as ações do córtex motor cerebral e áreas motoras subcorticais por comparações dos sinais descendentes, responsáveis pela resposta motora esperada, e os sinais sensoriais resultantes da sequencia dos atos motores.

Estudos afirmam que o cerebelo dispõe de acurado dispositivo regulador que incorpora vias importantes em controlar a correta sequencia temporal de um evento motor. Prediz-se a existência de um controle adaptativo-aprendizagem, que modifica o comportamento de acordo com os resultados e experiências, o controle adaptativo refere-se a experiências dentro dos limites de uma tentativa apenas, o controle da aprendizagem refere-se a experiências decorrentes de várias tentativas precedidas. O cerebelo portanto, planeja e organiza o evento motor propriamente dito, coordenando sua execução. O controle das atividade neurais é exercido por um sistema de feedforward suscetível a perturbações externas e mudanças de parâmetros internos, necessitando do microcomplexo corticonuclear como agente comparador e adaptador.

Durante a aprendizagem o processo de feedback é convertido em feedforward. Na execução de um ato motor voluntario planejado pela interação dos córtices cerebral e cerebelar, além dos sinais de erros transmitidos pelas fibras trepadeiras, chegam também ao córtex cerebelar por meio de fibras musgosas, sinais proprioceptivos da musculatura envolvida. O complexo olivar inferior integra os sinais da medula espinhal, córtex cerebral, núcleo rubro, formação reticular e cerebelo antes de enviar seus sinais de erro.

Cérebro e comportamento








Todo comportamento é reflexo de uma função cerebral, desde ações mais simples a funções mais elaboradas. A tarefa da neurociência é explicar como o cérebro organiza suas redes a fim de controlar o comportamento e de que forma o cérebro é influenciado por ele e por uma quantidade de fatores ambientais. A linguagem é tida como o comportamento cognitivo mais elaborado. O córtex cerebral é a parte do cérebro que mais sofreu expansão e evolução e está relacionada aos aspectos mais elevados do comportamento. Na relação entre cérebro e comportamento predominam duas visões, a do campo agregado e o conexismo celular. Até o século dezoito atribuía-se ao sistema nervoso uma função glandular, devido à proposição de Galeno de que os nervos seriam ductos transportadores de fluidos secretados pelo cérebro e pela glândula espinhal para a periferia do corpo. Já no fim do século dezenove, Ramon y Cajal utilizou a técnica de coloração de Golgi para mostrar que o sistema nervoso não é uma massa de células fundidas, mas uma rede altamente intricada de células individuais. No mesmo período, Dubois-Reymond e Von Helmholtz descobriram que as células nervosas utilizavam suas capacidades elétricas para sinalizar informações de uma para outra.

O comportamento, manifestação da mente no mundo físico, não foi abordado cientificamente até o século dezenove. Gall postulou que as funções mentais são executadas pelo cérebro, que não é um órgão unitário, mas uma coleção de pelo menos 35 domínios ou centros, cada um com uma função mental específica, podendo cada um deles crescer e se desenvolver com o uso (personologia anatômica). Flourens concluiu que as funções mentais particulares não são localizadas, mas age como um todo, para cada função mental. Lesões em áreas específicas do córtex afetariam, portanto todas as funções corticais igualmente, essa é a visão de campo agregado do cérebro. Porém os estudos clínicos de Jackson, sobre epilepsia focal mostraram que diferentes atividades motoras e sensoriais estão localizadas em diferentes partes do cérebro, o que contribuiu para que Wernicke e Ramom y Cajal elaborassem a teoria do conexionismo celular, na qual os neurônios são unidades sinalizadoras do cérebro e eles conectam-se uns aos outros de maneira precisa, Wernicke mostrou que o comportamento é mediado por regiões específicas e através de vias particulares que conectam estruturas sensoriais e motoras. A linguagem é a mais alta e característica função humana. É processada nos seguintes níveis: medula espinhal (recebe aferências e envia eferências), o bulbo, a ponte e o cerebelo (modulação de força e amplitude de movimento), o mesencéfalo (tronco cerebral: chegam e saem informações através dos núcleos dos nervos cranianos/ formação reticular regula os níveis de sono e vigília), o diencéfalo (dividido em tálamo - processa a maioria das informações- e o hipotálamo – que regula a integração autonômica), gânglios basais e córtex cerebral (funções perceptuais, cognitivas e motoras superiores). Então, devido ao fato de muitas funções sensoriais, motoras e mentais são levadas a efeito por muito mais que uma via neural, elaborou-se o conceito de processamento em paralelo.

O córtex está divido em lobos, o frontal (planejamento e movimento), parietal (sensação somática), occipital (visão), e o temporal (audição, memória e emoções). Cada hemisfério está relacionado primariamente com processos motores e sensoriais do lado contralateral do corpo e não são completamente simétricos em suas estruturas nem totalmente equivalente em suas funções. Antes se acreditava que atributos mentais abstratos estariam localizados em áreas corticais únicas, altamente específicas. Somente as funções mentais básicas relacionadas com atividades perceptuais e motoras simples estão localizadas em áreas específicas do cérebro e que são interconectadas de várias maneiras. Portanto, funções mentais mais complexas surgem de interações neurais e são mediadas por vias que as interconectam. O principio do mosaico do cérebro, por uma visão conexionista, levou Wernicke a enfatizar que a mesma função é processada em série e em paralelo em diferentes regiões do cérebro, e componentes específicos da função são processados em sítios particulares. Por exemplo, para a aprendizagem, Lashley não conseguiu achar nenhum centro específico, mas a severidade de dano cerebral dependia de sua extensão e não de sua localização precisa. Por isso ele reformulou a teoria do campo agregado na teoria do efeito de massa, a qual minimizava a importância dos neurônios individuais e conexões neurais específicas.

Privados de uma aptidão, um animal pode ainda aprender com outra. Mesmo à luz de evidências para a localização das funções cognitivas relacionadas à linguagem, persistiu a ideia de que as funções afetivas ou emocionais não seriam localizáveis, mas provinham da atividade de todo o cérebro, a chamada propriedade emergente. Mais tarde se descobriu a partir dos estudos sobre linguagem que seus aspectos afetivos estão representados no hemisfério direito, e sua organização anatômica espelha aquela para a linguagem cognitiva no hemisfério esquerdo. Há assimetria hemisférica tanto para a emoção quanto para cognição, e estão localizadas no lobo temporal embora envolva outras áreas. O que está localizado em regiões distintas do cérebro não é um conjunto de faculdades elaboradas da mente, mas uma grande família de operações elementares executadas em paralelo. Faculdades mais elaboradas derivam da interconexão de muitas regiões cerebrais, o processamento neural para uma dada função superior é distribuído dentro de cérebro e manipulado em vários outros locais distintos. Funções relacionadas são hoje vistas como produto de muitas cadeias distribuídas em paralelo. A quebra de uma única ligação interromperá uma cadeia, mas isto não interferirá permanentemente com o desempenho de todo o sistema.


por Aryostennes Ferreira