quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A Música e a Neurociência




Essa será a primeira parte de uma sequência de postagens sobre esse mundo da música visto por uma óptica neurocientifíca.              
            É muito difícil encontrar uma pessoa que não vivencie a música em seu dia-a-dia, ela se faz presente em nossas vidas de diversas formas, seja ouvindo música no carro, assistindo a televisão, indo a shows ou mesmo estudando um instrumento musical. Junto a linguagem, a música é um dos traços exclusivos dos seres humanos, apesar da existência do canto dos pássaros e alguns tipos de comunicação entre primatas ou baleias, por exemplo, nenhuma outra espécie possui esses dois domínios da maneira como são nos humanos.            
          Além disso, a música é tão antiga na vida do homem, que é anterior a própria linguagem e agricultura. Embora não se saiba ao certo o papel evolutivo, desempenhado por ela, não se pode negar sua importância em nossas vidas, dada sua onipresença, independente da cultura em que esta inserida.              
         
Nas últimas décadas o avanço das neurociências tem possibilitado uma maior compreensão sobre a relação entre a música e o cérebro. Técnicas de neuroimagem tais como a ressonância magnética, têm possibilitado, por exemplo, a verificação de diferentes volumes de estruturas cerebrais especificas como o corpo caloso, córtex motor e cerebelo, quando se compara músicos de alto desempenho e não músicos. Nesse sentido, têm sido bastante discutidos os efeitos neuroplásticos resultantes do treino musical.       
          
Além dos efeitos da música sobre a neuroplasticidade, outros estudos sobre música tem sido bastante valorizados, tais como percepção musical, as relações entre música e movimento, música e linguagem, música e memória, e música e emoção. Há também estudos que apontam o papel da música como ferramenta de intervenção em diferentes alterações neurológicas como autismo e Parkinson.       
      Diante das diversas correlações entre a Música e a Neurociência, nosso blog terá uma série de postagens sobre esse tema, cada uma correlacionando a música com algum tema da Neurociência, como Memória, Neuroplasticidade, Linguagem, entre outros.


Hortência Aranchez 
Acadêmica do 8°período de Fisioterapia na UEPB, integrante do grupo CEAH.

            

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Doença de Alzheimer: Conscientização

Descrita por Alois Alzheimer em 1907, trata-se de uma patologia neurológica que decorre com o declínio progressivo, homogêneo e irreversível das funções mentais. Estima-se que a prevalência da doença de Alzheimer oscile em torno de 4% a 5% após os 65 anos de idade e que a sua incidência se aproxime de 50% próximo aos 90 anos.
A estrutura cerebral torna-se progressivamente alterada com o aumento da idade. Essas alterações incluem: Diminuição do peso cerebral, diminuição de substâncias químicas cerebrais e morte neuronal. Na neuropatologia da doença pode se notar macroscopicamente atrofia difusa, alargamento dos sulcos corticais, aumento dos ventrículos. E nos achados microscópicos, se fazem presente os emaranhados neurofibrilares, as placas senis, a perda neuronal e a degeneração sináptica intensa.

O paciente com a Doença de Alzheimer apresenta a demência que se manifesta pela perda das funções cognitivas como memória e linguagem, resultando em piora progressiva das atividades diárias, além de uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e alterações comportamentais. Nessa situação, o paciente perde as funções mentais superiores (cognição), apresentando alterações progressivas no humor e no comportamento, sendo que no estágio mais grave da doença, o nível de dependência se torna muito importante, com a necessidade de que pessoas (familiares / cuidadores) ao redor passem a cuidar deste paciente de forma muito mais intensa. 

Mês Mundial da Doença de Alzheimer: setembro


 A ABRAz – Associação Brasileira de Alzheimer tem como prioridade divulgar a Doença de Alzheimer e contribuir para o constante investimento no tratamento de pacientes e apoio aos familiares-cuidadores. A ABRAz apoia a Alzheimer's Disease International (ADI) no desafio de sensibilizar a população e reduzir o estigma que cerca a doença e afasta as pessoas da identificação de sintomas e do enfrentamento do problema.
       Setembro é considerado o Mês Mundial da Doença de Alzheimer. Em 2013, o tema mundial da campanha é “Uma jornada de cuidado”. A ABRAz colabora com essa iniciativa e promove ações em todo o país, ao longo de todo o mês de setembro, com especial destaque para o dia 21, Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer.
            O lema escolhido pela ABRAz neste ano é “Alzheimer: eu não esqueço”. Para cuidar, precisamos reconhecer, enfrentar e aceitar a doença e, para tanto, desmistificá-la, lembrando não apenas que ela existe, mas que as pessoas que convivem com ela precisam de ajuda, apoio e orientação. Para não esquecer, estamos amarrando uma fitinha no dedo e clamando aos quatro ventos: "Eu não esqueço!". Contamos com o apoio de todos nesta campanha de conscientização.
Alzheimer: eu não esqueço!

Mielomeningocele



A Mielomeningocele (MMC) é uma das mais frequentes malformações congênitas no mundo, sendo responsável por sérias implicações neurológicas. Sua origem é multifatorial, mas estudos recentes associam fatores como: genética, ambiente e nutrição. Ocorre entre a terceira e quarta semanas de desenvolvimento embrionário.
            O defeito na oclusão do tubo neural leva a falha na fusão dos elementos posteriores da coluna vertebral causando malformação das lâminas e processos espinhosos do canal vertebral e também a displasia da medula espinhal que promove paralisia sensitiva e motora acometendo os membros inferiores, alterações tróficas e esfincterianas como diminuição da força muscular, paralisia flácida, hidrocefalia, incontinência dos esfíncteres do reto e bexiga.
            As crianças com Mielomeningocele usualmente apresentam comprometimento sensorial e motor nas extremidades inferiores, que impossibilitam a aquisição de padrões normais de deambulação. Na maioria das vezes, a sobrecarga ou o excesso de utilização das extremidades superiores e tronco para compensar a paresia e os desequilíbrios musculares nos membros inferiores, provocando o surgimento de distúrbios músculo- esqueléticos, especialmente nos tecidos moles e peri-articulares.    
            O tratamento visa à independência funcional da criança, sobretudo, no que se refere à deambulação. Nesse sentido, a fisioterapia tem papel fundamental na independência funcional da criança com mielomeningocele. A complexidade e a diversidade do quadro clínico apresentado por estas crianças demandam avaliação fisioterápica criteriosa, visto que é necessário estabelecer programa terapêutico adequado para desenvolver o máximo de sua funcionalidade.

CEAH 5 anos!



Em 2013, o CEAH completa 5 anos, e para comemorar realizamos uma celebração regada por histórias de alguns integrantes, tanto os que passaram pelo CEAH quanto os que ainda se encontram conosco, revivemos momentos, compartilharmos de experiências vividas e pudemos assistir a uma apresentação intitulada como "O Balé Bobath" realizada pelos integrantes da comissão atual.
Hoje, o CEAH é composto pela coordenadora Prof. Dra. Doralúcia Pedrosa, a comissão organizadora Gabriela Carla Vasconcelos Martins, Diego Bulcão Visco, Hortência Aranchez Santos da Silva, Rafaella Santos Carvalho, Waydja Lânia Virgínia de Araújo Marinho e mais 10 integrantes.
O que mais sensibiliza a professora coordenadora é o refinamento no perfil de professor que os discentes descobrem participando do projeto, pois, muitos dos alunos estão inseridos em programas de pós graduação stricto senso em universidades renomadas.
Participantes das antigas comissões deixaram algumas mensagens falando um pouco de suas experiências no CEAH, segue um trecho destas...

Aryostennes Ferreira: 
"Participar do CEAH foi uma experiência muito valorosa. Inicialmente como membro das reuniões, ativo em todas as atividades teóricas e em pouco tempo incluído em atividades práticas, o projeto me proporcionou a possibilidade de identificação com a profissão e com a área de neurofuncional, que de outra maneira não aconteceria devido ao sistema de disciplinas da graduação em si, que visa à formação de um profissional generalista. No CEAH pude conhecer um mundo de novidades científicas e dar vazão ao espírito de cientista que temos todos na nossa infância, investigativo e realizado a cada nova, pequena e simples descoberta. Foi através de uma participação ativa, que toda minha vida acadêmica enquanto universitário foi complementada, com conhecimento, com oportunidades em projetos e à custa de muita dedicação. Além de todo e qualquer benefício no âmbito da universidade, também fiz grandes amigos, tive um ganho pessoal enorme e crescimento e amadurecimento enquanto aluno e profissional. Sou grato à professora Doralúcia pela nobreza em ser sensível a essas necessidade e executar aquilo que ela acredita ser melhor para os alunos do departamento de Fisioterapia da UEPB, nela encontrei uma figura materna na ciência, uma mentora. Obrigado também a todos que marcaram minha época neste projeto, às comissões, inclusive a que tive o prazer de contribuir como líder, assim como aos que estiveram sempre dispostos e vestiram a camisa deste ideal."

Rafaela Faustino:
"[...] As primeiras reuniões do CEAH daquele novo período lotavam o auditório e era motivo de curiosidade para coordenação e chefia, que sentiam dificuldade em reunir os alunos para eventos da escola. O rodízio de apresentações, aos moldes de uma defesa de TCC, nos incentivava a buscar o conhecimento e transmiti-lo com qualidade. Não podemos negar que no CEAH sempre existiu uma hierarquia (bem respeitada, diga-se de passagem).  Eu diria que ela é característica essencial do grupo. Nossa hierarquia dispensava/dispensa disputa de poderes ou pela soberania do conhecimento, era/é uma hierarquia formada em torno das experiências.  Sempre houve o desejo dos mais experientes em transmitir o máximo de si para os que chegavam, como também o interesse dos que chegavam pela busca de experiência. Era/é a hierarquia que busca a homogeneidade. Eu contemplaria esse, na minha linha de pensamento, como sendo segundo paradigma do CEAH.  E, assim, nossas experiências iam além da sala de aula: tínhamos contato direto com a comissão, a comissão contato direto com as professoras, e nas nossas reuniões “inadiáveis” isso se misturava [...]O CEAH foi o caminho que me permitiu chegar as neurociências. Não sei onde vou chegar, mas já me sinto realizada com as experiências que o ser CEAH me permitiu vivenciar.”

Renan Guedes:
“[...] CEAH, projeto este que tenho extremo carinho, pois foi a partir daí que tudo começou. Alguém pode estar se perguntando: como assim foi no CEAH que tudo começou? Foi o CEAH, em nome da pessoa de Dorinha, permitam-me chamá-la assim a partir daqui, que me apresentou o que era uma extensão, que me inseriu no mundo da pesquisa científica e que me mostrou o quão prazerosa e desafiadora é a fisioterapia neurofuncional. É graças ao incentivo e confiança de Dorinha que hoje continuo minha trajetória no mundo da pesquisa e tendo como linha a neurofisiologia, duas paixões que foram despertadas ainda na graduação, especificamente no CEAH.[...] Parabéns CEAH por ser essa janela e esse divisor de águas na vida das pessoas. É muito bom poder ver nosso sonho e trabalho prosperar. Sinto-me orgulhoso por ter participado da primeira comissão organizadora do CEAH. Comemorem, essa vitória é de todos!!! Espero poder estar aí na comemoração de 10 anos, para podermos compartilhar, pessoalmente, mais algumas boas histórias.”

                                         Comissão atual e a professora

Durante esses 5 anos, o CEAH nos trouxe excelentes conquistas e desenvolvimentos de projetos, como o projeto de extensão Ser e Sentir: Reabilitação Sensorial em pacientes hemiparéticos, a criação do LaNeC (Laboratótio de Neurociências), a aquisição do Estimulador Magnético Transcraniano, dentre várias outras aquisições e projetos.
Para a comissão atual foi onde tudo começou, e por dizer “onde tudo começou” não dizemos a extensão CEAH, falamos da vida acadêmica, e porque não dizer profissional?! Bom, no CEAH começamos o contato de forma mais direta com pesquisa, ensino e extensão. Mas não é só isso... No CEAH iniciamos amizades, que sabemos e podemos dizer que são pra vida inteira!!! Hoje também sabemos que não é fácil conviver com a diferença dos diferentes, mas a gente deu nosso jeito... como o CEAH, essa comissão amadurece a cada instante, para quem sabe um dia deixarmos de ser “verdinhos” e disseminar, também, a nossa semente por onde passarmos.


Parabéns CEAH!



terça-feira, 4 de junho de 2013


Homem deformado?

Homúnculo de Penfield : uma perfeita relação entre funcionalidade e localização



             O Homúnculo de Penfield é uma representação psiconeuroanatômica das funções do corpo humano, ou seja, é praticamente a representação do corpo no cérebro. Foi desenvolvido na década de 1940, pelo neurocirurgião canadense Wilder Penfield (1891-1976). Penfield observou pacientes com epilepsia intratável clinicamente e pensou que se pudesse induzir as crises através de uma leve eletroestimulação no córtex cerebral, encontraria, assim, o foco epileptogênico e a sua remoção levaria à cura. Com os pacientes conscientes e utilizando apenas anestesia local, Penfield realizava a craniotomia, localizava os focos das crises e os removia. Ele aproveitava para estimular outras regiões do córtex e observava efeitos motores (contrações musculares) e sensitivos, assim como respostas cognitivas complexas envolvendo vários sentidos.      
   
            Dando continuidade as suas investigações, ele identificou relações de algumas áreas do córtex cerebral com as diversas regiões do corpo humano, concluindo que havia uma proporcionalidade do tamanho destas áreas corticais com as funções periféricas (como precisão do movimento muscular ou densidade de receptores na superfície corporal). Com isso foi possível desenvolver um mapa cerebral, no qual diferentes regiões corporais eram representadas no córtex, porém de uma forma diferente (tamanho e disposição) de como eram encontradas no corpo, idealizando o homúnculo (tanto sensorial como motor) de Penfield.         

            O Homúnculo Sensitivo corresponde a área somestésica primaria localizado no giro pós-central, nas áreas 1, 2, 3 do mapa de Brodmann, e está relacionado com a sensibilidade somática geral. A estimulação elétrica nessa região faz com que o paciente queixe de sensações mal definidas de dormência e formigamento no lado contralateral. O Homúnculo Motor corresponde a área motora primária, localizada no giro pré-central, a área 4 de Brodmann, e está relacionado com a motricidade voluntária. A estimulação elétrica nessa região faz com que ocorra movimentos dos grupos musculares do lado oposto.            

         O homúnculo apareceria, então, como um homem deformado, com algumas regiões maiores e outras menores do que eram na realidade. A partir dessa correlação entre regiões do córtex motor e sensitivo com áreas do corpo fica mais fácil diagnosticar a topografia de lesões e distúrbios cerebrais a partir da anamnese e do exame físico alterados, e isso é de grande importância para a investigação semiológica.