Síndrome de Charles Bonnet
Portal para uma realidade paralela.
A síndrome de Charles Bonnet (SCB)
foi descrita em 1760 por Charles Bonnet, naturalista e filósofo suíço, a partir
de alucinações apresentadas pelo avô do próprio autor, que obteve visões de
homens, mulheres, pássaros e construções que mudavam de forma, tamanho e lugar,
sendo um tanto confusa, demonstrando ao próprio paciente que estas visões não
eram "reais". Esta síndrome é caracterizada por alucinações visuais
complexas isoladas, cujos pacientes (geralmente idosos) não possuem distúrbios
cognitivos ou psiquiátricos, no entanto, são acometidos de alguma alteração
visual, e estes têm consciência da natureza irreal destes fenômenos.
Pouco se conhece sobre a fisiopatologia da SCB,
alguns estudos revelam que tais alucinações representam um fenômeno de
liberação, secundário as conexões normais de áreas de associação do córtex
visual, promovendo o surgimento de “visões fantasma”. Outros estudos trazem que
as alucinações tratam-se do resultado de estímulo neural contínuo no sistema
visual motivado por déficit ocular na idade avançada (degeneração macular,
glaucoma, catarata etc.). A baixa qualidade de contato social expressada por
solidão, introspecção, timidez e isolamento, tornam indicadores de risco em
indivíduos idosos e com redução da acuidade visual, também é considerada.
Há um aumento progressivo dessa síndrome de acordo
com a idade, a maioria dos casos relatados são de pacientes com uma uma maior
incidência entre 70 e 93 anos. As alucinoses consistem de imagens organizadas,
bem definidas e nítidas, as quais os pacientes relatam que não têm controle
nenhum sobre elas. De forma colorida, viva e animada, porém sem nem uma espécie
de som, surgem as aparições, que podem ser contínuas ou surgir esporadicamente
várias vezes ao dia. Os pacientes que possuem essas condições geralmente
reconhecem a não realidade de suas experiências visuais, que em grande parte
são prazerosas com pouco impacto na qualidade do seu bem estar, no entanto,
estudos apontam que estas condições também podem causar estresse nesses
pacientes por algo irreal que eles estão vendo e/ou presenciando.
Não há conhecimento atual de tratamento
farmacológico universalmente efetivo, porém drogas como anticonvulsivantes
podem reduzir ou extinguir as alucinações visuais em alguns casos, dependendo
da gravidade destes. Deixar claro para o paciente e seus familiares que as
alucinações são benignas e que não há doença psiquiátrica subjacente possuem um
enorme efeito terapêutico e necessita-se de uma abordagem multidisciplinar,
envolvendo neurologistas e psiquiatras para um diagnóstico mais efetivo.