domingo, 19 de junho de 2011

Cérebro e comportamento








Todo comportamento é reflexo de uma função cerebral, desde ações mais simples a funções mais elaboradas. A tarefa da neurociência é explicar como o cérebro organiza suas redes a fim de controlar o comportamento e de que forma o cérebro é influenciado por ele e por uma quantidade de fatores ambientais. A linguagem é tida como o comportamento cognitivo mais elaborado. O córtex cerebral é a parte do cérebro que mais sofreu expansão e evolução e está relacionada aos aspectos mais elevados do comportamento. Na relação entre cérebro e comportamento predominam duas visões, a do campo agregado e o conexismo celular. Até o século dezoito atribuía-se ao sistema nervoso uma função glandular, devido à proposição de Galeno de que os nervos seriam ductos transportadores de fluidos secretados pelo cérebro e pela glândula espinhal para a periferia do corpo. Já no fim do século dezenove, Ramon y Cajal utilizou a técnica de coloração de Golgi para mostrar que o sistema nervoso não é uma massa de células fundidas, mas uma rede altamente intricada de células individuais. No mesmo período, Dubois-Reymond e Von Helmholtz descobriram que as células nervosas utilizavam suas capacidades elétricas para sinalizar informações de uma para outra.

O comportamento, manifestação da mente no mundo físico, não foi abordado cientificamente até o século dezenove. Gall postulou que as funções mentais são executadas pelo cérebro, que não é um órgão unitário, mas uma coleção de pelo menos 35 domínios ou centros, cada um com uma função mental específica, podendo cada um deles crescer e se desenvolver com o uso (personologia anatômica). Flourens concluiu que as funções mentais particulares não são localizadas, mas age como um todo, para cada função mental. Lesões em áreas específicas do córtex afetariam, portanto todas as funções corticais igualmente, essa é a visão de campo agregado do cérebro. Porém os estudos clínicos de Jackson, sobre epilepsia focal mostraram que diferentes atividades motoras e sensoriais estão localizadas em diferentes partes do cérebro, o que contribuiu para que Wernicke e Ramom y Cajal elaborassem a teoria do conexionismo celular, na qual os neurônios são unidades sinalizadoras do cérebro e eles conectam-se uns aos outros de maneira precisa, Wernicke mostrou que o comportamento é mediado por regiões específicas e através de vias particulares que conectam estruturas sensoriais e motoras. A linguagem é a mais alta e característica função humana. É processada nos seguintes níveis: medula espinhal (recebe aferências e envia eferências), o bulbo, a ponte e o cerebelo (modulação de força e amplitude de movimento), o mesencéfalo (tronco cerebral: chegam e saem informações através dos núcleos dos nervos cranianos/ formação reticular regula os níveis de sono e vigília), o diencéfalo (dividido em tálamo - processa a maioria das informações- e o hipotálamo – que regula a integração autonômica), gânglios basais e córtex cerebral (funções perceptuais, cognitivas e motoras superiores). Então, devido ao fato de muitas funções sensoriais, motoras e mentais são levadas a efeito por muito mais que uma via neural, elaborou-se o conceito de processamento em paralelo.

O córtex está divido em lobos, o frontal (planejamento e movimento), parietal (sensação somática), occipital (visão), e o temporal (audição, memória e emoções). Cada hemisfério está relacionado primariamente com processos motores e sensoriais do lado contralateral do corpo e não são completamente simétricos em suas estruturas nem totalmente equivalente em suas funções. Antes se acreditava que atributos mentais abstratos estariam localizados em áreas corticais únicas, altamente específicas. Somente as funções mentais básicas relacionadas com atividades perceptuais e motoras simples estão localizadas em áreas específicas do cérebro e que são interconectadas de várias maneiras. Portanto, funções mentais mais complexas surgem de interações neurais e são mediadas por vias que as interconectam. O principio do mosaico do cérebro, por uma visão conexionista, levou Wernicke a enfatizar que a mesma função é processada em série e em paralelo em diferentes regiões do cérebro, e componentes específicos da função são processados em sítios particulares. Por exemplo, para a aprendizagem, Lashley não conseguiu achar nenhum centro específico, mas a severidade de dano cerebral dependia de sua extensão e não de sua localização precisa. Por isso ele reformulou a teoria do campo agregado na teoria do efeito de massa, a qual minimizava a importância dos neurônios individuais e conexões neurais específicas.

Privados de uma aptidão, um animal pode ainda aprender com outra. Mesmo à luz de evidências para a localização das funções cognitivas relacionadas à linguagem, persistiu a ideia de que as funções afetivas ou emocionais não seriam localizáveis, mas provinham da atividade de todo o cérebro, a chamada propriedade emergente. Mais tarde se descobriu a partir dos estudos sobre linguagem que seus aspectos afetivos estão representados no hemisfério direito, e sua organização anatômica espelha aquela para a linguagem cognitiva no hemisfério esquerdo. Há assimetria hemisférica tanto para a emoção quanto para cognição, e estão localizadas no lobo temporal embora envolva outras áreas. O que está localizado em regiões distintas do cérebro não é um conjunto de faculdades elaboradas da mente, mas uma grande família de operações elementares executadas em paralelo. Faculdades mais elaboradas derivam da interconexão de muitas regiões cerebrais, o processamento neural para uma dada função superior é distribuído dentro de cérebro e manipulado em vários outros locais distintos. Funções relacionadas são hoje vistas como produto de muitas cadeias distribuídas em paralelo. A quebra de uma única ligação interromperá uma cadeia, mas isto não interferirá permanentemente com o desempenho de todo o sistema.


por Aryostennes Ferreira

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