domingo, 29 de agosto de 2010

EQVE- AVE




Quando se considera o destacado envelhecimento populacional percebe-se que o número de pessoas com doenças e incapacidades crônicas têm aumentado, de forma que gera repercussões sociais e previdenciárias. Entre estas condições crônicas de saúde o AVE é o evento mais incapacitante e que impacta quase todas as funções humanas.
Após um AVE segue-se o programa de reabilitação, este influenciado pelo nível de incapacidade presente no indivíduo e determinante de sua qualidade de vida, conceito que ainda não apresenta um consenso na literatura, mas que envolve termos como "condições de saúde" e "funcionamento social". O que favorece o surgimento de uma concepção de qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), este, um constructo multidimensional que reflete a percepção do impacto da doença e do tratamento para o paciente, a partir de um ponto de vista biopsicosocial, já que, mensurações físicas 'importam aos clínicos mas são limitadas para os pacientes'.
Desta forma se postula que instrumento que objetivem mensurar a QVRS deve apresentar domínios relacionados à doença, ter características de administração apropriadas aos pacientes e ser viável e confiável. Devem incluir questões que avaliem, além do impacto geral da doença para o indivíduo, questões relacionadas à funcionalidade e incapacidades. É importante considerar a presença de isolamento social e sintomas depressivos no paciente, a fim de incluir medidas de participação. Sabe-se que a doença se manifesta diferentemente em cada pessoa, sendo fundamental entender conceitualmente o que ela significa para o paciente.
A validade de uma escala que proponha mensurar a QV diz respeito a medir aquilo que se propõe medir, sua confiabilidade relaciona-se a alcançar resultados semelhantes independentemente do examinador, a responsividade reflete a capacidade de a escala detectar pequenas e grandes mudanças e sua interpretabilidade refere-se ao fato de que um determinado escora represente um estado definido na escala.
Diante de todos estes fatos foi adaptada a Escala de Qualidade de Vida Específica para AVE.

Em sua dissertação de mestrado em Ciências da Reabilitação, na qual correlaciona a EQVE-AVE com a CIF, Gomes Neto (2007) descreve a EQVE-AVE da seguinte forma:

"A escala tem 12 domínios (energia, papel familiar, linguagem, mobilidade, humor, personalidade, auto-cuidado, papel social, raciocínio, função de membro superior, visão e trabalho/produtividade) elaborados a partir de entrevistas com indivíduos hemiplégicos que identificaram áreas comuns afetadas pelo AVE. (...) Ao todo, os 49 itens são distribuídos dentro destes 12 domínios. Três possibilidades de repostas foram desenvolvidas em uma escala likert com escore de um a cinco: (1) grau de concordância com afirmações sobre sua funcionalidade, variando de concorda fortemente a discorda fortemente; (2) dificuldade na realização de uma tarefa, variando de incapaz de realizar a tarefa a nenhuma dificuldade; (3) quantidade de ajuda necessária para realizar tarefas específicas, indo de ajuda total a nenhuma ajuda necessária. (...) O ponto de referência para resposta de todos os itens se refere à semana anterior. O ponto de referência para todos os itens se refere à semana anterior. (...) Se aplicada em uma população mais deficiente do ponto de vista funcional, talvez pudesse ser observada uma melhor distribuição dos indivíduos, cobrindo os níveis inferiores da escala."

E conclui que, a EQVE-AVE é um instrumento de mensuração da QVRS clinicamente útil por cobrir domínios comumente afetados pela entidade clínica em si e outros relacionados aos componentes de função corporal, atividade e participação, além dos fatores ambientais cobertos pela CIF e que são fundamentais na identificação do impacto do AVE na vida dos pacientes. Ele observou adequada estabilidade dos itens e indivíduos, além da apropriada distribuição dos itens, difíceis e fáceis. Porém, no seu estudo, ele adverte que se deve ter cuidado na aplicação e interpretação dos itens verificados como erráticos da escala, de forma a comprometer a validade do constructo.


por Aryostennes Miquéias


REFERÊNCIA: GOMES NETO, MANSUETO. Aplicação da Escala de Qualidade de Vida Específica para AVE (EQVE-AVE) em Hemiplégicos Agudos: Propriedades Psicométricas e sua Correlação com a Classificação Internacional de Funcionalidade Incapacidade e Saúde. 2007. 77f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Reabilitaão) - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo horizonte. 2007.



Link para download da EQVE-AVE

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Os neurônios se transformam!



Esta frase, título do capítulo 5 do livro de Robert Lent - Cem Bilhões de Neurônios, expressa um fato muito estudado e questionado, o de as células do sistema nervoso serem dotadas de uma plasticidade, que se declina com o desenvolvimento, mas não se extingue, de forma a exibir ainda a capacidade de se reorganizar em resposta a estímulos ambientais. Os animais recém-nascidos estão submetidos à plasticidade axônica ontogenética, uma vez que seus axônios se desenvolvem sob controle e influência do ambiente. Durante a fase de remodelação dos axônios, ocorrida normalmente durante o desenvolvimento, ocorrem mecanismos progressivos e regressivos que participam na programação dos circuitos neuronais. Determinadas habilidades e comportamentos se estabelecem a partir de experiências interativas com outros da mesma espécie e em períodos ditos críticos, nos quais a remodelação neuronal acontece mais dinamicamente . A espinha dendrítica é tida como a sede estrutural da plasticidade sináptica. A capacidade de adaptação do SN, especialmente a dos neurônios, às mudanças nas condições ambientais ocorrentes no dia-a-dia dos indivíduos, chama-se neuroplasticidade, seu grau varia com a idade e tem valor compensatório. As transformações neuronais nem sempre restauram funções perdidas, às vezes produzem funções mal-adaptativas ou patológicas.

Convenciona-se que não há possibilidade de reposição numérica espontânea de uma população neuronal e, apesar de se postular atualmente, a hipótese de que o microambiente do sistema nervoso seja desfavorável ao crescimento regenerativo, verifica-se a formação de sinapses funcionais que interferem diretamente no desempenho do SN, adaptando o organismo a condições externas. Em lesões do corpo celular, as células provavelmente morrerão, mas as com apenas prolongamentos danificados podem regenerar-se. Os axônios lesados facilmente encontrarão os alvos se a lesão tiver ocorrido próximo a eles. Quando a lesão é distante do alvo, sem interrupção completa, a estrutura degenerada do coto distal fornece um arcabouço para o crescimento. Em lesões nervosas completas e distantes dos alvos a regeneração se frustra.

Na vida adulta vigora o dogma da neurobiologia de que os neurônios não proliferam, porém, Ramachandram, estudando a sensibilidade de membros fantasmas, verificou a existência de uma plasticidade axônica nos adultos, ao observar que, em algum ponto do sistema somestésico do amputado os axônios que estariam normalmente representando uma área estenderam-se a regiões de representação da extremidade amputada; processo ocorrido provavelmente pelo brotamento lateral. Outra hipótese seria o aparecimento de circuitos axônicos silenciosos. A transmissão de mensagens entre os neurônios é um fenômeno regulado pelas circunstâncias, a plasticidade sináptica se dá pelos processos de: habituação, pelo qual a resposta reflexa reduz com a repetição do estímulo; sensibilização, que se refere ao aumento da resposta quando precedida por um sinal de aviso; e condicionamento clássico, que corresponde à aprendizagem a um único estímulo de forma a reduzir ou facilitar a transmissão sináptica, todos estes diretamente relacionados á aprendizagem.

Diz-se que no sistema nervoso central a regeneração é bloqueada pelas células da glia, estas sintetizam proteínas com efeito inibitório do crescimento axônico, por isso se entende que lesões do SNC provocam a morte da maioria dos neurônios atingidos. Estudos mostraram que a adição de laminina a quase totalidade de neurônios motores se regeneraram, mas apenas metade dos sensitivos sobreviveu e regenerou. A plasticidade dendrítica parece depender de um plano geral codificado no genoma do neurônio característico deste. Nos adultos a plasticidade dendrítica estrutural se restringe às espinhas, estas são regiões fundamentais para o estabelecimento e a consolidação da memória. A plasticidade somática é entendida como a possibilidade de alteração da capacidade proliferativa ou da morte de uma população neuronal em resposta a interferência do meio exterior.

A função da atividade proliferativa residual do SNC permanece desconhecida, mas a comprovação de sua existência abre a possibilidade de se estudar evidências de algumas populações neuronais dotadas dela, as células-tronco. A neuroplasticidade nem sempre leva a restauração funcional, ao contrário, pode levar a resultados mal-adaptativos e danosos ao indivíduo. Benefícios compensatórios da plasticidade são: ativação de circuitos silenciosos, estabelecimento de conexões transitórias, brotamento lateral de axônios vizinhos às regiões lesadas ou inativas, além de diferentes combinações destas possibilidades.

Portanto, entende-se que o argumento primordial para se explicar os efeitos, muito bem conhecidos, da fisioterapia neurofuncional, é o conhecimento desta capacidade do sistema nervoso. Ser cônscio de que a habilidade de reprogramação dos circuitos neuronais será a responsável pela recuperação do indivíduo, cabe então ao terapeuta a segurança em oferecer o estímulo externo adequado, para que a neuroplasticidade se efetue da maneira correta, de forma a impedir o que Lent expressa como “os efeitos maléficos da plasticidade neural”.


Por Aryostennes Miquéias

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

AGENESIA DE CORPO CALOSO



Antes de tudo, voltemos ao saudoso Ângelo Machado para lembrar que o Carpo Caloso (figura) é uma estrutura do cérebro localizada na fissura longitudinal que conecta os hemisférios cerebrais, sendo formado por cerca de 250 milhões de projeções axonais mielínicas que cruzam o plano sagital e penetram de cada lado no centro branco medular do cérebro. Em corte sagital do cérebro, podemos identificar as divisões do corpo caloso: uma lâmina branca arqueada dorsalmente, o tronco do corpo caloso, que se dilata posteriormente no esplênio do corpo caloso e se flete anteriormente em direção a base do cérebro para constituir o joelho do corpo caloso. Este se afina para formar o rostro do corpo caloso, que continua em uma fina lâmina, a lâmina rostral até a comissura anterior. Entre a comissura anterior e o quiasma óptico encontra-se a lâmina terminal, delgada lâmina de substância branca que também une os hemisférios e constitui o limite anterior do III ventrículo.

Agenesia de Corpo Caloso (ACC) é uma má formação congênita que se caracteriza pela ausência do corpo caloso, com o aumento significativo dos cornos occipitais. A ACC pode ser classificada em: agenesia total de corpo caloso, caracterizada pela total ausência do corpo caloso, agenesia parcial ou hipogenesia, na qual o corpo caloso apresenta encurtamento em graus variados ou desenvolvimento incompleto, e hipoplasia, nesse caso o corpo caloso está completamente formado, mas apresenta redução em seu tamanho.

A ACC, embora assintomática na maioria dos casos, pode apresentar sintomas como: síndrome de desconexão cerebral, cefaléia, hemiparesia, hipotonia, convulsões, retardo no desenvolvimento psicomotor, podendo existir um déficit mental variável dependendo da extensão da agenesia e da associação com outras lesões. Pessoas com agenesia de corpo caloso podem apresentar falta de coordenação entre as atividades dos dois hemisférios cerebrais pela inexistência das fibras que os ligam. Dentre as possíveis causas para essa má-formação encontram-se a associação com síndromes genéticas, erros inatos do metabolismo, exposição fetal a fatores tóxicos e isquemias.

Por Renan Guedes

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

DEFININDO CLÔNUS

O clônus é uma contração muscular reflexa produzida por uma extensão brusca do tendão de um determinado músculo, ocorrendo devido a uma exaltação da atividade reflexa miotática, a qual é decorrente de desequilíbrios entre os sistemas facilitador e inibidor provocados por lesões da via piramidal. Os centros cerebrais superiores, incluindo o feixe piramidal, parecem ter ação frenadora sobre o clônus. O vídeo abaixo mostra claramento o clônus.




Por Renan Guedes

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MEU DERRAME DE PERCEPÇÃO

Os vídeos abaixo são a palestra da Dra. Jill Bolt Taylor intitulada Meu Derrame de Percepção (My Stroke of Insight), na qual a palestrante descreve a sua experiência após o acometimento por um AVE hemorrágico. Apesar de algumas opiniões da Dra. Taylor fazerem muitos neurocientistas rangerem os dentes, a palestra possui uma boa essência e nos dá uma descrição valiosa de como é a sensação de ser acometido por um AVE.








Por Renan Guedes

domingo, 1 de agosto de 2010

SUPER DIDÁTICO

Esse video mostra de maneira didática como ocorre o AVE isquêmico, mas é óbvio que a fisiopatologia e os mecanismos de acometimento são bem mais complexos.




Por Renan Guedes